Por Lucas Nogueira

O mundo profissional está sendo redefinido como nunca visto antes. Com a entrada de profissões qualificadas na Gig Economy, a evolução da mão de obra autônoma tem chamado a atenção de empresas e funcionários. [Leia também: A Gig Economy e seu impacto na carreira e nos negócios]

Por trás deste crescimento significativo, a tecnologia tem sido o principal condutor da mão de obra autônoma – abrangendo desde trabalhos com pouca qualificação, que cunharam o termo Gig Economy, até talentos altamente qualificados, que englobam a mão de obra “por projeto” e “sob demanda”. 

No entanto, a mão de obra autônoma não é um conceito novo – na verdade, por mais de 45 anos tem sido uma alternativa temporária que se converteu em uma carreira altamente compensadora para os profissionais deste ramo.

Fenômeno cíclico: profissionais por projeto

Há uma diferença gritante entre os novos postos de trabalho operacionais oferecidos pela Uber, por exemplo, e os trabalhos que exigem a qualificação necessária para direcionar as organizações rumo à inovação e à mudança. 

Ao que tudo indica, tanto as grandes empresas quanto as pequenas estão abraçando a tendência de contratar profissionais qualificados como consultores ou por projeto. Sem dúvida, estamos propensos a ver essa tendência no futuro com muito mais frequência.

O recente aumento no tamanho da mão de obra autônoma é um fenômeno cíclico e deve ser considerado como uma resposta natural aos tempos de recessão econômica, como visto nos últimos anos. A demanda por competências aumenta durante uma crise, quando é mais difícil (ou tem um preço elevado) manter um funcionário de maneira permanente.

A onda atual de contratar profissionais por projetos temporários como complemento à equipe permanente deve ser marcada como precursora da era na qual estamos entrando. Ao invés de ser temida, ela deve ser vista como uma oportunidade. Os trabalhadores altamente qualificados, que são contratados para tarefas exclusivas – para promover mudanças, lidar com o aumento da demanda em estratégias cruciais ou para introduzir ofertas inovadoras de negócios –, são muito requisitados e precisam ser incluídos nas estratégias de contratação.

Deslocando o foco do negócio e a mentalidade da geração Y

Cada vez mais pessoas em todo o mundo estão escolhendo trabalhar de forma flexível, em projetos que as interessam, que se alinham às suas competências e ao estilo de vida. A OCDE informou que 40% dos jovens com menos de 40 anos na Europa demonstram interesse em ter um trabalho flexível. Conforme essa geração de trabalhadores amadurece e adquire competência, também contribui com o crescimento dessa mão de obra.

Essa tendência permite que as empresas acessem uma mão de obra competitiva – como e quando precisarem -, além de ser a abertura de novas e interessantes oportunidades em todo o mundo.

Muitas empresas – desde bancos a prestadoras de serviços – estão repensando seus modelos de negócios e procurando a melhor maneira de se conectarem com seus clientes. Isso exige agilidade na criação de ambientes de trabalho modernos. Em geral, as empresas estão se abrindo para a ideia de trabalho flexível, compartilhado e rotativo.

Tendências globais na Gig Economy

Pode-se dizer que a última vez que vimos um aumento na mão de obra autônoma foi durante a década de 1990 e início do ano 2000 – durante o início do boom tecnológico e, em seguida, mais uma vez, durante a crise econômica mundial, em 2008. Na época, profissionais temporários não eram muito comuns. Eles forneciam uma resposta rápida para uma necessidade urgente, mas nada além disso. Nesse momento, devido à alta demanda por competências e a incapacidade em adquiri-las em tempo integral, surgiu uma nova forma de trabalho, fora dos tradicionais contratos, que atendia tanto às necessidades das empresas quanto dos trabalhadores.

Atualmente, essa história é tida como uma aliada e todos estão muito mais preparados para entenderem os benefícios da mudança. Como os freelancers estão se tornando uma parcela muito significativa do mercado de trabalho, os mercados desenvolvidos tornaram-se mais familiarizados em recorrer a este conjunto valioso de recursos quando necessário. 

Apesar da tradição em torno do emprego fixo, a mão de obra por projeto da Europa em geral já tem uma certa maturidade, com muitas empresas alavancando contratos temporários há muitos anos. Ainda assim, este modelo continua evoluindo em lugares como a França, a Bélgica, a Holanda e a Alemanha, onde houve uma flexibilização da regulamentação empregatícia.

Nos Estados Unidos, onde o número total de trabalhadores temporários era tradicionalmente bastante baixo em comparação ao mercado de trabalho, temos visto um aumento substancial nos últimos anos. Cerca de 57,3 milhões de pessoas em todo os EUA agora trabalham como freelancers – e quase a metade (47%) pertence à geração Y.

Preparando-se para um futuro flexível e colaborativo

Sempre haverá a necessidade de profissionais em tempo integral para funções permanentes dentro das organizações. Hoje, a diferença é que os profissionais por projetos estão prontamente disponíveis para ajudar as empresas a superarem os altos e baixos – e auxiliar em momentos de altos níveis de trabalho.

A Gig Economy já se tornou viável para muitos profissionais em desenvolvimento de suas carreiras. Para os trabalhadores, isso significa mais flexibilidade sobre como e quando trabalham, e também autonomia para escolher quais os tipos de projetos que querem assumir. Para as empresas, o acesso imediato à experiência, às competências e ao conhecimento do candidato que trabalha por projetos permitirá a criação de um banco de talentos flexível, formado por profissionais que foram adquiridos durante projetos-chave, o que gera um grande valor para a organização.

Se uma empresa está passando por uma fase de crescimento ou está operando em um ambiente desafiador e competitivo, essas competências adicionam um nível de colaboração e desafiam as formas existentes de pensar. E na crise do talento atual, em que as empresas lutam para encontrar as competências necessárias, pode ser a solução para a guerra global por talento.

Em geral, a Gig Economy oferece acesso a uma mão de obra  bastante competitiva, bem como a flexibilidade financeira que permite às empresas decidirem, rapidamente, onde e como agregar valor aos serviços oferecidos aos seus clientes.

*Lucas Nogueira é diretor associado da Robert Half

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